Confederação Brasileira de Kickboxing

Boxe e Kickboxing em União

Durante o WGP 68, o maior evento de kickboxing da América Latina, que teve lugar no sábado passado (25/03) no Ginásio do Morumbi em São Paulo, foi assinado um acordo desportivo histórico entre as maiores entidades de kickboxing profissional e amador e de boxe profissional do Brasil.

O importante acordo foi assinado pelos atuais presidentes da CBKB (Confederação Brasileira de Kickboxing, afiliada a World Association of Kickboxing Organizations (WAKO), já reconhecida pelo COI) e o CNB (Conselho Nacional de Boxe, afiliado às quatro maiores entidades de boxe internacionais, o WBC, WBO, WBA e IBF).

Este acordo procura a cooperação mútua entre as modalidades de Kickboxing e Boxe. Estes são alguns dos termos:

– Quando um Atleta é suspenso (seja no CNB ou CBKB), não poderá lutar em nenhuma circunstância num evento supervisionado pelo CNB ou CBKB, enquanto a sua suspensão não tiver sido cumprida;

– Foi acordado que, a nível de reconhecimento do recorde/cartel dos atletas, serão aceitas lutas e/ou declarações entre o CNB e a CBKB. Por conseguinte, as suas lutas serão registadas no BoxRec.

– Foi também acordado que para possíveis disputas de títulos ou lutas por um maior número de rounds, poderão ser aceitas declarações entre a CNB e a CBKB.

De pronto, é importante que se destaque a cooperação criada pelo acordo entre ambas em relação às suspensões médicas, uma vez que, compartilhando informações, evitarão que atletas lutem em competições reguladas por ambas enquanto estiverem cumprindo suspensão médica.

Não bastasse isso, os atletas da CBKB terão o registro formal de seus carteis no BoxRec, hoje prerrogativa no Brasil unicamente do CNB.

No boxe, o registro oficial aceito pela ABC (Association of Boxing Comissions) – entidade reguladora norte-americana criada para unir as comissões atléticas norte-americanas que regulam os esportes de combate nos EUA – é feito através do site Boxrec (no qual tenho registro como inspetor).

No caso do Boxrec, o registro só pode ser feito através das comissões filiadas à ABC ou às demais organizações internacionais filiadas à ABC. O Boxrec também registra as suspensões médicas, com o fito de ser resguardada a saúde do lutador, como também suspensões administrativas e de caráter desportivo.

O BoxRec permite também o registro de lutas de Kickboxing e MMA, evitando o chamado record padding (preenchimento de recordes artificial), prática que consiste em se “fabricar cartéis”, registrando-se lutas que não ocorreram.

Tal prática costuma gerar dúvidas acerca da forma como os atletas registram seus recordes, ou cartéis, de luta em alguns sites, pois nem sempre há qualquer vídeo de uma luta registrada em determinados sites de registros.

Através dos sites de registro de carteis, um atleta ou um promotor de eventos podem, frequentemente, verificar os resultados de uma luta, se um lutador competiu pela promoção ou se, afinal, um combate nunca aconteceu. O BoxRec é a ferramenta oficial dos órgãos internacionais mais importantes do boxe.

Muitos são os órgãos de registro, embora poucos sejam de fato oficiais. Os 4 principais órgãos sancionadores no boxe são a Federação Internacional de Boxe (IBF), a Associação Mundial de Boxe (WBA), o Conselho Mundial de Boxe (WBC) e a Organização Mundial de Boxe (WBO).

Cada uma dessas organizações designa um campeão mundial em cada divisão de peso e também classifica os dez primeiros a vinte competidores por divisão.

O poder dessas organizações é derivado do fato de que, sem sua sanção oficial, uma luta não pode ser reconhecida como um “campeonato”, sendo assim menos atraente tanto para a televisão como para o público espectador. No Brasil, só o CNB é ligado à estas entidades e pode fazer o registro no Boxrec.

Sem registro formal do cartel, fica impedida a progressão do atleta para efeitos de ranking, ou seja, o atleta pode fazer uma luta considerada profissional[1] e não ter registro formal desta no cartel no órgão oficial de registro da ABC, o que não o permitiria subir no ranking, caso isso seja do seu interesse.

Como o acordo, o atleta cujo combate seja regulado pela CBKB, de agora em diante, terá a prerrogativa de registro de suas lutas e suspensões.

Isso colaborará tanto para preservar a saúde dos atletas de ambos os organismos, como também será crucial para que os atletas do kickboxing possam ter uma progressão na carreira, pois o registro internacional de seus combates fará com que ele chame a atenção de promotores de eventos internacionais, o que levará a carreira do atleta adiante.

No futuro, poderemos reunir o registro de todos os desportos de combate no Brasil e trazer mais segurança e uma carreira mais sólida para os atletas.

Crédito imagem: Reprodução

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[1] Embora o evento considere a luta como “profissional” ela não é legalmente assim considerada, já que o atleta de alto rendimento remunerado com base em qualquer outra relação que não contemple a existência de um contrato de trabalho será considerado como não profissional, conclusão extraída do inciso II do art. 3º, §1º da Lei Pelé.

Sobre o autor da matéria:
Elthon Costa
Advogado trabalhista e desportivo. Especialista em Direito Desportivo (CERS). Pós-graduado em Direito Processual Civil (Unileya). Mestrando em Direito Desportivo Internacional (ISDE). Diretor jurídico do Conselho Nacional de Boxe (CNB). Diretor jurídico da Confederação Brasileira de Kickboxing (CBKB). Auditor do TJDU/DF. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD). Membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB/DF. @elthoncosta